Esse lugar não é mais pra mim. Não vejo mais essas ruas como destino, sabe? Acredito que não vou chegar à lugar algum se eu continuar pelo mesmo caminho. Por aqui e por ali, já andei por tudo. O que mais tem guardado pra mim? As ruas não me inspiram e nem me falam mais pra onde seguir. Talvez seja hora de decidir de forma consciente a próxima esquina pra me encostar.

Tudo à minha volta carrega memórias demais. Escolhas, traumas, amores vazios e tragédias à la Tarantino que me perseguem aonde quer que eu vá. Talvez seja por isso que eu nunca canso de procurar pelo novo, pelo que ainda não vi e não entendo. Faz sentido fugir do tédio, não é? Acho motivador demais essa batalha mental entre novas e antigas lembranças.

Esse lugar não é mais pra mim. Eu já não consigo encontrar morada em nenhum quarteirão. Muito pelo contrário, eu ainda escuto os gritos de socorro ecoando pelas paredes das casas. Consigo escutar essa confusão permanente, e um pouco de indecisão também. E tenho certeza que se eu ficar aqui, debaixo desse texto cheio de história, eu nunca vou mudar a minha própria.

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O que eu posso fazer? Os rostos estão ficando batidos demais, todos iguais e sem reação. Será que ninguém sente mais nada? Como faz pra não sentir? Será que ninguém tem respeito pela própria história? Como faz pra não lembrar? Eu me recuso a aceitar que tudo o que me resta são lugares previsíveis com pessoas sem consciência agindo sem pensar.

Esse lugar não é mais pra mim. Até porque não combina comigo olhar nos olhos pra mentir – eu estou exausta de ações sem sentido. Eu posso até não ter um lugar, mas não é melhor ficar sem teto do que ficar perdida? Não sei o que o próximo quarteirão vai me trazer e nem em qual esquina eu vou me encostar, mas não vale a espera porque eu não pretendo voltar.