Eu gosto de pensar no que poderia ter sido e não foi. Mesmo que não adiante ou não mude o que aconteceu. Eu gosto dessa brincadeira de me remoer pelo que não tem volta. É assim que a minha cabeça me obriga a seguir em frente – até eu cansar. E somente quando penso no que nunca vamos significar, é que eu entendo o quanto um quase incomoda.
Quase todo dia eu tento não pensar nesse quase. Toda essa situação meio torta me faz sentir mais besta do que certa. É que um quase não é nada. Quase o que? Nada foi feito, mas tem esse bloco entre a gente. Nada foi dito, mas tem esse entendimento mútuo que carregamos em silêncio. Maldito silêncio. Então me diz, se eu gritar você ainda me ouviria?
Eu sei que sou a primeira a calar quando a vida pressiona. Mas preciso confessar que esse silêncio educado que a gente carrega me incomoda demais. Esses quases, olhares e tudo o que poderia ser dito e não foi, só me fazem continuar remoendo as minhas próprias escolhas. Então me diz, se fui eu quem correu colina abaixo, por que ainda penso em ti?
Depois de todas essas voltas que o mundo deu, como pode você ainda se fazer presente em meus pensamentos? Não tem arrependimento, juro. A vida seguiu como eu quis, parabéns pra mim. Mas então me diz, por que eu ainda insisto nesse drama? O que posso fazer se mesmo depois de tudo você ainda agrada o meu ego?
Eu gosto de pensar em você. Não é só ego, drama ou carência. Dane-se o que poderia ter sido e não foi. Até porque pra mim você foi. E é por isso que eu te guardo com carinho e carrego comigo todos os ensinamentos que a tua bagunça me trouxe. Eu gosto de pensar que de uma forma muito debochada a vida fez de nós quem deveríamos ser.