Hoje eu estava esperando para ser atendida pelo meu dentista e comecei a reparar a sala de espera. Eu estava com muita dor para me entreter com qualquer coisa – seja com a Sessão da Tarde que passava o novinho do Tom Cruise com o Top Gun, seja com a magnífica Martha Medeiros que clamava por mim de dentro da minha bolsa, ou com as inúmeras possibilidades que o meu celular oferecia. Então eu fiquei observando todos que estavam ali. Dois pontos em comum naquela sala me chamaram atenção: pessoas altamente ansiosas e apressadas. Tirando meu caso que era emergência, todos os outros atendimentos eram de rotina. Então eu pergunto: pressa do que, se os atendimentos são com hora marcada? Esse é o mal do século? Por que se for, o século anda mal mesmo… Eu fui a única que por um estranho momento não quis estar conectada – acredite se quiser.

Ouvi um diálogo entre uma mãe e um filho. Ele estava pedindo ansiosamente para ganhar um smartphone novo, pois o dele tinha sido lançado ano passado e estava velho. A mãe dele, sentindo que seria sua única chance de vencer a batalha, respondeu sem titubear: “se você passar de ano na escola com notas acima da média eu te dou de presente”. O menino devia ter uns 12 anos e não desgrudou da tela do celular pra conversar com a mãe. Na sequência chegou um menino, de no máximo uns 10 anos de idade, com os olhos grudados num livro que não distingui qual era. Sem perceber ele quase sentou no colo de outra pessoa porque não viu que o lugar estava ocupado. A mãe que o acompanhava pediu desculpas, mas a criança não se deu o trabalho de reagir, totalmente concentrado na leitura. Aí eu pergunto: a culpa é de quem?

Afinal, qual é o mal do século? Por um mundo menos conectado

Não importa qual seja o meio, o que realmente importa é que não estamos aqui. O que realmente está acontecendo? Estamos num mundo que não é esse ou conseguimos viver em vários mundos ao mesmo tempo? Seja no celular, livro, TV – ou até na soneca que eu tirei no sofá esperando ser atendida, temos um mundo para cada uma das nossas necessidades. Trabalhamos em um mundo, mantemos nossas amizades em outro, nos relacionamos em um mundo vai saber aonde, e por aí vai.

O resultado final é um só: nos iludimos achando que está tudo bem unir um pouco do virtual com o real, do maldito online com off-line. Coletamos o melhor de cada mundo e construímos um novo, só nosso. Acabamos decepcionados e descobrimos que passamos muito tempo apenas coexistindo. Repense, precisamos mais do real e palpável, e menos – muito menos do virtual, seja onde esses mundos estiverem e por quem eles estiverem habitados. Mayday, mayday algum intergaláctico na escuta?