Era um sábado chuvoso e frio. Um daqueles dias que você tira pra ficar em casa e não fazer nada. Atores principais: você, o seu marido, a pipoca e a televisão. Nada melhor. Depois de seguir o script, o único que falta é dormir e descansar. Ninguém poderia prever que no dia seguinte você acordaria para descobrir que foi assaltada.

Eu consigo ver a cena como se fosse um filme. Um casal dormindo profundamente, um ladrão entrando e depois saindo. Roteiro clichê, cena padrão e alta audiência.

O único vestígio encontrado foi a falta – falta das carteiras, celulares e relógio. O único que ficou de prova foi uma calça amarrada na varanda, provavelmente feita de escada. A bolsa remexida ficou jogada e junto com a bolsa no chão ficou o nosso moral.

A sensação de ser assaltada é terrível, não pelos objetos e sim pela invasão do seu espaço. Hoje eu continuarei a pagar um celular que não está mais comigo e foi vendido para comprar drogas. Hoje eu acordei e descobri que levaram não apenas o relógio, mas a segurança da minha própria casa. E independente do que aconteça nada vai voltar atrás.

Não me sinto culpada por me descuidar das trancas das varandas. Eu não tenho o hábito de antes de dormir pensar: “é melhor eu trancar as varandas, vai que alguém resolve escalar até o terceiro andar e roubar as minhas coisas em cima da mesa da cozinha”. Cá entre nós, ninguém pensa isso antes de dormir.

Se for para pensar assim ninguém dormirá, da mesma forma que ninguém sairá de casa. Algumas coisas simplesmente acontecem, a diferença é que vivemos achando que é somente com os outros. Acorde para o mundo real garota – você também é humana e também está sujeita à realidade humana.

Realidade terrível, mas ficou a lição que não tem nada de ficção. Mesmo que eu me mude para o 23° andar eu irei trancar as varandas. Antes de dormir irei rezar e não pedirei a paz mundial, e sim que eu não seja assaltada. Começarei a ser egoísta, pois não existe outra maneira. E acima de tudo pararei de me considerar invencível, imortal, à prova de roubos e tragédias.