Eu sempre fui amiga da minha vida. A maioria das vezes eu consegui compreender os desafios que ela colocava em meu caminho, por mais difíceis que tenham sido. Eu acho que sempre consegui entender os sinais que a minha vida me mandava, da mesma forma que sempre consegui me fazer entender. Até agora. Fala sério, não faço ideia do que a minha vida, muy amiga, está querendo para mim agora.

Vê se eu estou no momento de aturar a vida me falando sobre hormônios ou maternidade? Eu só queria ir viajar, colocar o carro na estrada, curtir umas praias diferentes e conhecer gente que não se prende. Vê se agora é um bom momento pra minha vida me encarar e dizer que está tudo bem, que eu não devo me preocupar, só seguir em frente? Logo eu que sou viciada em adrenalina e não sei como parar. Ou será que já estou parando?

A comunicação com a minha vida anda em ruínas. Provavelmente nem falamos mais a mesma língua. Será que ela me conhece melhor do que eu? Sinto que estamos fazendo planos diferentes. Eu tento seguir pela baladinha do sábado à noite, e ela me joga para um dia chuvoso com o cachorro no colo. Eu tento seguir para a dieta-agora-vai-esse-verão-vou-ser-magra, e ela me joga de frente pro espelho e faz eu gostar do que eu vejo. Eu tento seguir comprando o que não preciso – como sempre fiz, e ela me joga uma consciência de consumo da qual eu nunca tive.

Sinto que a minha vida está me fazendo abrir espaço, como se algo novo e grande estivesse chegando. Não está fácil entender os sinais que a minha amiga vida tem me mandado. O que ela quer? Para onde eu realmente tenho que seguir? Não procuro por paz e muito menos por conflito. Só quero ficar na minha varanda olhando o céu cor de rosa e desfrutando a minha vida com uma cerveja gelada. Em nenhum momento eu quis fazer tudo isso com um cachorro pedindo carinho. Em nenhum momento eu quis fazer isso planejando ser saudável. Em nenhum momento eu quis fazer isso sentindo que falta pouco para iniciar uma nova fase.

Era para eu ter bicho carpinteiro em mim, oras. Era para eu ser aquela que não vai parar quieta, não importa o que aconteça. Era para eu querer emendar novidade atrás de novidade sem ter tempo para respirar. Era para eu estar no controle do que eu realmente quero, e não essa tal de vida. Quem ela pensa que é? Chega chegando, me encosta na parede e me diz como vai ser? E agora? Vai ser por pressão ou vontade? Quando foi que parei de me importar com o que eu achei que nunca pararia? Logo eu, que sempre fui avessa a roteiros e rotinas. Logo eu que sempre tive um papo reto com a minha vida, estou levando uma rasteira desse jeito. E o mais grave: desejando levar essa bendita rasteira.

E assim eu sigo, fingindo que não vejo os sinais que a vida me manda. Ela me manda uma surra de hormônios que me fazem planejar a árvore genealógica até os bisnetos, e eu desvio saindo pra passear com o meu cachorro. Ela me manda uma preguiça danada de sair de casa, e eu me entupo de energético e vou pra uma festinha sem sentido. Quem eu quero enganar? Eu sei que a minha vida manda em mim. Desconsidero crises de aflição e aquele desconforto no coração e só sigo em frente. Sigo por saídas que eu mesmo invento para problemas que eu mesmo crio. Não estou duelando contra a minha própria vida, mas se tem uma coisa que eu aprendi é que quanto mais difícil, melhor. E que não importa o que aconteça, a vida sempre sabe o que faz.