Eu ainda confundo a pronúncia do “wash” com “watch”. E ainda fico completamente tímida com meu sotaque brazilian english inspirado no Joel Santana. Mas por aqui tudo é motivo pra gargalhar.

Percebi que Sydney é muito mais do que o Ópera House e a Harbour Bridge (quase uma Hercílio Luz #sqn). E que o Skype e Whatsapp são meus melhores amigos e as ligações são mais esperadas que presente de Natal – mesmo que role aquele momento nostalgia na despedida. Fico ansiosa por emails dos amigos contando as novidades só pra eu retribuir contando as minhas. E me considero completamente apaixonada pela tecnologia que ainda me permite contato com todos os que não puderam vir na mala.

OperaHouseandHarbourBridge

Foi quase um soco no estômago quando constatei que viver nos dois lugares me impedia de viver profundamente onde eu realmente estou. A saudade é normal, faz parte de todos os dias, e com certeza eu não cheguei no ponto máximo dela. Todo dia eu me descubro mais forte pra aguentar a saudade, principalmente depois de ler o G1.

O mundo gira lá, o mundo gira cá. A única diferença é o fuso horário e a qualidade de vida. Todos estão no mesmo barco, ou ferry se você preferir. Todos são iguais aqui. No trem tem pedreiro, cleaner, médico, executivo, estudante e turista – e eu acho essa mistura linda.

Eu, de repente, descobri que o maldito verbo “have” é muito mais do que “ter”. E que você só manda bem no inglês quando sabe lidar com a fórmula básica de “have + past participle“. Inglês é muito mais do que formular frases e usar o Google Translate. Quando isso acontece é quase invenção de uma nova língua. Dominar a língua inglesa é pensar em inglês. Mesmo quando você pense em inglês e português ao mesmo tempo e misture tudo no final. Não há nada de incomum nisso.

Depois de um tempo você descobre que beber não melhora o teu inglês, só deixa a tua pronúncia de índio mole e engraçada – mas você está bêbado demais pra notar e isso é lindo também. E o mais importante de tudo: caipirinha é uma bebida conhecida mundialmente.

O mundo é grande e pequeno ao mesmo tempo. Você pode sentar numa mesa de bar e encontrar pessoas de todo canto possível. E você pode fazer uma excursão com sua mãe via Skype e ela ter a mesma reação que você quando viu o Q.V.B..

O pão de queijo com requeijão faz falta se você não sabe fazer ou não tem ninguém que faça pra você. Descobri que os gringos estranham quando uma brasileira não toma café. A comida australiana não é como é servida no Outback e no Didge. Aqui tem comida de todos os cantos do mundo e volta e meia tem costelinha com barbecue. Mas obviamente nenhuma receita ganha do arroz, feijão, bife e batata – vulgo “à la minuta”.

Percebi que para os gringos “tchê tchêrerê tchê tchê” tem que ter um significado e que eles não aceitam um “não significa nada” como resposta. Descobri como pode ser divertido explicar uma música brasileira em inglês. Comprovei que ninguém requebra tão bem quanto as latinas.

Constatei que existe água mais gelada que a praia da Joaquina. E descobri que existe roupa mais curta que a das piriguetes no inverno, as asiáticas ganham ou empatam. Tudo bem ir de pijama no mercado, ninguém repara em você. E compreendi que está na hora de fazer o mesmo com a vida dos outros. Os brasileiros se importam muito com beleza e estética. E mesmo assim as australianas são divas com monocelhas e biquinis gigantes.

Aspirei uma atmosfera de segurança e felicidade. Fiz amigo no ônibus. Aprendi a respeitar as diferenças. Planejei um futuro e me descobri contente com o final feliz. Conheci inúmeros lugares lindos e lembrei que a natureza é maravilhosa com seus filtros naturais.

E enxerguei que aqui pode ser um novo lar. Nunca um substituto, mas um novo.