É tarde, talvez muito mais tarde do que eu consigo sentir. Eu estou bagunçada entre malas incompletas, passado e presente. Futuro? Uma eterna ansiedade. Não faço ideia do que me aguarda, mas ando plantando coisas boas pensando na colheita. Não sei quais sapatos colocar na mala. Não sei nem quantas meias levar. Será que tenho que levar toalha de banho? Pedi ajuda das amigas via Whatsapp. Já falei que ainda não me acostumei com o fuso horário? Até alguém me socorrer, a minha mala e vida já vão estar prontas. Não, não é a primeira vez que faço as malas. Mas depois de tanto tempo segura, me sinto estranha por querer, espontaneamente, voltar pra linha de tiro.

Agora estou procurando a minha dose final de desapego, mas não consigo encontrar. Será que eu tenho? Onde eu deixei? Talvez junto com aquela blusa de lã que eu não uso mais. Ou quem sabe em cima daquela calça jeans que não serve, mas eu ainda guardo porque acredito que um dia, por milagre, vai voltar a servir. Não, não é a primeira mala que eu faço na minha vida. Mas ainda não consigo entender por quê empacotar tudo é algo tão melancólico e mexe tanto comigo. Por que organizar uma vida de recordações fortes em uma mala e deixar um pouquinho no armário é tão angustiante? Afinal, eu sempre posso deixar um pouquinho para trás. Depende de mim. Socorro, tem muita poeira aqui, não consigo respirar.

Fonte: We Heart It

Fonte: We Heart It

Como faz parar? Peguei um caixa de lenço, caso eu me perca espirrando nessa bagunça. Pelo menos eu sei que não vou precisar levar lenços de papel. Abri a janela e a cortina pra ventilar o quarto. Agora o vizinho consegue me ver feito louca arrumando a bagagem e a mim mesma. Isso justifica o motivo de eu estar tão descabelada não é? Faço um grande esforço pra pesar as malas, estou suando. Está tudo mais pesado do que eu pensei que estaria. Será que eu consigo aguentar? Só de presente tem 15 quilos. O resto do peso morto nos meus ombros eu nem sei quantos quilos tem, nunca consegui pesar. Gostaria de deixar essa tonelada que me aperta o peito no passado. Estou cansada de pagar sobretaxa por peso inútil nos meus ombros, custa muito caro.

Sentei em cima da mala pra conseguir fechar. Aproveitei pra descansar um pouco também. Não que seja difícil fechar um zíper nem nada… Apenas tem muito de mim pelo quarto, pelo ar, pelas malas e por tudo o que eu estou ou não carregando. Pareço derrotada, mas esta sou eu me preparando para a próxima batalha. A verdade é que eu nem sei se acontecerá uma outra batalha – mas sinceramente não importa. O que eu sei por agora é que a minha mala está finalmente pronta. E dentro dela eu coloquei todas as minhas esperanças para que eu também esteja.