Eu sempre precisei de certezas. Eu sempre precisei ter tudo sob controle e planejado. E por muito tempo qualquer desvio do plano era quase fatal pra mim. Eu não tolerava mudanças e não tolerava ser contrariada – ok, ainda não tolero. Mas o ponto é que ser alguém com a característica de não lidar bem com alterações no percurso, é muito complicado. Quero dizer, o mundo não para de girar só porque a gente precisa de um descanso ou não está contente. E a vida não espera você decidir outro caminho e se reorganizar. Estar sem planejamento nunca foi uma opção pra mim, até agora.

Eu sempre tive certeza do que queria como profissão, até que chegou o momento e eu mudei de ideia. Eu sempre tive certeza que queria me casar depois da faculdade, até que o cara certo chegou e me propôs na metade do curso e eu editei o meu planejamento. Eu sempre tive certeza sobre quem eu era e o que eu queria, até que assumi essa minha mania de ficar me redescobrindo e me refazendo. Eu sempre achei que ia ficar o resto da vida brigando com minhas irmãs por pegarem o meu vestido sem pedir, então eu sai de casa, elas viraram minhas melhores amigas e eu descobri o quão insignificante uma roupa pode ser.

Eu tenho medo até de falar em voz alta ou registar por escrito, mas a verdade é que eu não tenho certeza de mais nada. E mesmo que eu queira continuar me iludindo sobre a minha vida planejada, é certo que o meu planejamento é incrivelmente falho. Eu estou em um momento em que nunca pensei ou planejei: não estar pronta, não ter certeza e não saber. Muita coisa do que era certo antes, hoje não faz o menor sentido. E agora José?

Fonte: We Heart It

Fonte: We Heart It

Eu poderia falar o quanto essa fase de não ter tudo desenhado em um plano estratégico de vida me fez bem. Mas a verdade é que me fez ficar mais assustada. Não me sinto preparada para o desconhecido – mal me sinto preparada pra fazer miojo, poxa. E é exatamente essa sensação aflitiva que faz eu me sentir mais viva. Eu sei que é contraditório, mas quanto menos preparados estamos, mais aterrorizante é, e automaticamente, mais emocionante. Ou deveria ser.

O sentimento que tenho é que estou o tempo todo vivendo no limite das minhas emoções. Estou o tempo todo me desafiando e exigindo mais de mim mesmo – o que é uma coisa positiva. Talvez eu deixar um pouco minha agenda e organização de lado me fez ver que a gente não marca para conhecer pessoas incríveis, não tem hora certa pra ver um céu cor de rosa, tomar um bom vinho ou ter dias inesquecíveis. Ninguém é surpreendido com hora marcada. Nós precisamos primeiro viver para depois preencher as páginas de um diário, certo?

Então eu realmente guardo comigo a sensação de que só agora tá valendo. Só agora tô fazendo esse negócio de viver da maneira certa. Somente agora me sinto segura para deixar de canto planos, agendas e pretensões. E somente agora consigo aceitar todas as surpresas que vem junto quando o mundo gira. Viver é muito além do que apenas estar pronta com dias e horários marcados, com idade certa para realizar determinados objetivos e seguir um roteiro pré-determinado. Não existe um guia para viver bem. Isso depende de nós mesmos. E se for pra ser assim, eu abro mão das minhas certezas para deixar a vida me surpreender.