Nem o meu eu lírico é livre quando penso em tudo que não digo. Sinto que é mais fácil ser omissa, já que eu não encontro espaço pra me expressar, do que enfrentar um mundo chato que causa por qualquer opinião contrária. E assim me sinto presa em tudo que não digo só pra não abalar a minha paz.
É que a minha paz é muito cara. Demorei um tempo pra ficar de boa comigo mesma, gostar de quem eu me tornei e entender como reajo quando a vida bate. Então é difícil abrir mão do meu sossego por causas perdidas. E agora, nessa falta de liberdade, nem a poesia me salva do tédio.
Nem o meu eu lírico é livre quando penso em tudo que digo. Sinto que as minhas palavras são inaudíveis e não consigo me fazer ser entendida. Tem poesia de um lado só. Vejo todos falando o tempo todo em diferentes meios, mas poucos realmente dialogando ou aceitando ideias contrárias. Socorro.
É que eu não tenho mais disposição para o superficial. Demorei um tempo pra filtrar os meus interesses e parar de concordar com o sim só porque é mais fácil do que o não. E tudo bem eu não querer ir ali ou acolá só porque estão me esperando. E agora, nessa falta de liberdade, nem a poesia me salva do tédio.
Nem o meu eu lírico é livre quando penso em tudo que não faço. Sinto que é mais fácil ficar parada do que pagar explicação inutilmente o tempo todo. Cansa demais ficar desviando de inquisições vazias daqueles que nem tentam entender o meu contexto. E dói menos carregar arrependimento do que não aconteceu.
É que eu não quero mais arrependimentos inúteis pelo que não fiz. Demorei um tempo pra entender e respeitar as decisões que tomei. Tudo o que escolhi, pelo sim ou pelo não, foi com a alma gritando o melhor da minha verdade. E agora, nessa falta de liberdade, nem a poesia me salva do tédio.
Nem o meu eu lírico é livre quando penso em tudo que faço. Sinto que faço tanto pra me manter ocupada e não pensar no que faço que já nem sei mais o que estou fazendo. Quem sabe? Estou sufocando nesse tédio que a falta de espaço provoca. Dizer ou não dizer? Fazer ou não fazer? Que diferença faz?
É que nessa falta de espaço pra ser livre a minha poesia se feriu.