Depois que vim para a Austrália muitos amigos e conhecidos vieram me procurar sobre o dilema de morar fora do Brasil. Então esse texto é para todos aqueles que querem mudar de país. Para aqueles com imensa vontade de se jogar no mundão, por pura curiosidade. Aqueles com vontade de dar um chute em tudo o que tem, só pra não sentir mais pertencimento algum. Ou até para aqueles que simplesmente desistiram do Brasil.

Você vai perceber que é difícil, mas vale a pena.

E talvez por valer tanto assim, cada vez mais vejo pessoas colocando a mochila nas costas e dizendo tchau. Os brasileiros que eu conheci aqui vieram de todos os cantos do Brasil. Conheci advogados que trabalham na obra, publicitárias que trabalham como babás, uns tantos administradores trabalhando com eventos, enfim.. Pra cá tem brasileiros de todas as idades e profissões e que tiveram seus próprios motivos pra saírem do Brasil. Uns dizendo sim para uma proposta no exterior em que nunca pensaram em aceitar. Outros dizendo sim para um curso de inglês. Alguns dizendo sim sem nem saber o que esperam. E sair do Brasil, é a parte fácil. Acredite: aprender a conviver em outro país, com uma nova cultura e língua, que é o complicado.

Você vai ser econômico. 

Confesso que a maioria dos brasileiros aqui na Austrália são jovens – bem jovens. Muitos saíram de casa para morar sozinhos a primeira vez aqui. Então, se isso se aplica no seu caso, seja paciente. Dividir casa com estranhos não é fácil, mas pode ser divertido e uma ótima maneira de conhecer outras nacionalidades. Mas tenha cuidado para não perder o foco. Festa e curtição é o que você mais vai encontrar – mas tem seu preço. Esteja ciente que manter o nível social em que você vivia no Brasil vai custar muito caro.

Você vai amadurecer – por bem ou por mal.

Poder comer o que quiser, com certeza não é a opção mais saudável – e você vai descobrir isso da pior forma possível. Você vai querer fazer exercícios e sair de dentro de casa por sua própria conta. Você vai se incomodar com a sujeira dos outros e vai sentir necessidade de limpar o seu quarto – até porque o seu quarto é a sua casa, literalmente. Você vai querer ficar longe das drogas quando esbarrar em alguns malucos à solta nas ruas. E vai perceber que no fim das contas, chegar no limite não é tão legal assim. E o mais importante: por aqui só depende de você.

Opera House – Sydney – Austrália

Você vai ver que tudo isso é lindo.

Escolher ir é carregar sempre consigo a responsabilidade da escolha feita. Volta e sempre você vai praguejar aos céus de tanta saudade. E bem rapidinho você vai lembrar que foi você quem quis. Estar distante é ruim e bom. Todo dia você se sentirá dividido. Tentará incansavelmente viver em dois lugares – e quase enlouquecerá. Não pelo fuso horário, mas por saber que uma mensagem no Whatsapp não fala o que tem pra ser dito. Todo dia será dia de descobrir novos lugares, pessoas, comidas e curiosidades locais. E ao mesmo tempo, em cada descoberta, uma dorzinha por querer estar lá também – ou ao menos que fulano e beltrano estivessem aqui.

 Você vai alcançar uma liberdade indescritível. 

Para você que foi desbravar o mundo será natural o sentimento de desapego. Será necessário acompanhar o noticiário para saber o que está acontecendo no Brasil – e principalmente pra sentir um “não volta que tá ruim” – ótima dica para dias de saudades extremas. Para você que escolheu ir, vai ser estranho ter o lugar do qual você sempre pertenceu como destino de férias, turismo ou passagem rápida. O seu coração estará dividido o tempo inteiro, angustiado porque queria estar presente, sem deixar de estar incrivelmente feliz por estar onde você está. A vontade de tornar possível estar em dois lugares ao mesmo tempo nunca vai ser tão forte. Quem vai sente falta de coisas tão simples e rotineiras, quem fica jamais entenderia.

Você vai desapegar de pessoas sem importância. 

Quando você está longe acontece um filtro mágico na tua rede de contatos. Somente sobrevivem aqueles que realmente se importam com você. Não é por mal ou castigo, mas agora é necessário um certo esforço para manter o contato e estar presente mesmo distante. É natural que seja mais difícil manter uma amizade com pouca convivência. Então seja grato por aquelas pessoas que permaneceram – essas com certeza valem a pena considerar e dedicar tempo e banda da tua 3G.

Você vai transformar a saudade em rotina.

Estar longe não significa ficar longe. E com o passar do tempo, você entende essa enorme diferença. Aprende-se a usar a tecnologia a favor da angústia que fica sempre dentro do peito. Você encontra maneiras de continuar próxima e presente. Seja sendo madrinha via Correios, irmã no Facetime, amiga no grupo do Whatsapp, palpiteira por e-mail. Ou transformando o Skype no teu melhor amigo. A internet quase te abraça quando você precisa, e uma notificação no celular é motivo de riso fácil e certeiro. Você será grato por aqueles que volta e meia vem te dar um oi – eles jamais conseguirão entender quão bom é. Quem está longe se desapega do material, da carreira, da casa ou carro. Mas é humanamente impossível se desapegar daqueles que sempre estiveram lá por ti. 

Você vai aprender a administrar sua vida no Brasil e fora dele.

Vai ser caro – financeiramente e emocionalmente falando. Cada vez em que você precisar comprar um dólar com o seu dinheiro do Brasil, vai doer. Talvez seja mais um momento em que você vai praguejar aos céus reclamando do preço do dólar. E vai parar bem rapidinho porque você já sabia que isso poderia acontecer. Vão existir momentos em que você vai se culpar e se sentir um pouco egoísta por fazer aqueles que ficaram passar por tudo isso – sendo que a escolha foi tua. Não são todos que embarcaram na tua viagem, mas você precisa do incentivo de todos para continuar. Então você vai respirar fundo e continuar, porque não há nada que se possa e queira fazer sobre.

Você vai ficar feliz por ter escolhido partir.

Lembre-se do mais importante sempre: escolher partir é pensar no seu próprio bem e nos seus sonhos. É não querer acumular planos, é não ficar apenas no planejamento, é não se remoer com o “e se”. Isto não te torna uma pessoa egoísta, muito pelo contrario. Escolher partir te torna alguém incrivelmente corajoso. É preciso muita coragem pra se jogar no mundão e recomeçar. É preciso muita determinação para não desistir no primeiro dia desastroso. E é preciso muito foco para permanecer. Pode ser uma escolha difícil e árdua no trajeto, mas todos os dias você vai acordar com a certeza de que fez a escolha certa e pronto para um novo dia.