Carregarmos cicatrizes pelas ruas em que seguimos. E volta e meia caímos naquela esquina de sempre, e acabamos saindo mais machucados do que já estávamos. Carregamos pelos quarteirões muitas marcas, algumas por causa de palavras duras que dissemos ou ouvimos e outras por lugares e pessoas que passamos. Acabamos nos permitindo caminhar por praças desconhecidas e perigosas e estamos sempre nos colocando em risco. O que podemos fazer se não sabemos nos localizar na vida?

Deveríamos ser naturalmente felizes. Sem precisar doer tanto pra valer. Deveríamos espontaneamente nos solidarizarmos com o próximo. Todos temos dores, e alguns precisam de ajuda de vez em quando. Deveríamos fazer as pazes com nós mesmos, para sempre. Sem deixarmos pendências e sem olharmos pra trás. Deveríamos focar no futuro de maneira esperançosa e não receosa. O futuro deveria ser o nosso lugar seguro. Deveríamos respeitar os nossos limites e não nos cobrarmos por aquilo que está além do nosso alcance. E deveríamos, de uma vez por todas, compreender a magnitude do que realmente somos.

Não adianta de nada escrevermos sobre as nossas feridas se continuamos nos machucando. Um dia nos faltarão palavras e as feridas vão continuar lá. Não vale aprender a nos localizarmos, se insistimos em frequentar os lugares dos quais não devemos estar. Não queremos mais ficar repetindo os nossos problemas e nos sentindo tão incapazes de lidar com eles. Não procuramos adiar nada, mas estamos cansados de investir energia e tempo em contrariedades que quase debocham de nós por ainda existirem. De mais quanto tempo vamos precisar para ficarmos em dia com nós mesmos?

Pelas ruas em que seguimos

Fonte: We Heart It

Fonte: We Heart It

Todas as noites vamos dormir acompanhados das dores que o trajeto nos causou e desejamos acordar curados. Mas tudo o que fazemos é acumular tanto peso que o nosso corpo não aguenta. Então inventamos diversos tipos de venenos para que seja possível conseguirmos um pouco de alívio. Dessa forma nos permitimos nos anestesiar com distrações nada saudáveis, porque sentimos que não temos mais outro caminho. Temos dentro de nós a sensação de que não podemos parar.

Estamos nos cobrando excessivamente. Estamos muito mais do que apenas nos sabotando. Estamos todos sem espaço para mais marcas e ainda assim não aprendemos a nos proteger. Estamos nos permitindo passar por bairros inteiros que não nos fazem bem, apenas porque esperam que a gente passe por lá. E assim assumimos como nosso um lugar que nunca foi. E assim nos apropriamos de ruas, esquinas e praças que não nos acolhem, porque não somos os nossos próprios donos. E assim deixamos de estar onde realmente deveríamos e gostaríamos.

Não importam os lugares em que a gente passe, de nada adiantará continuar indo em frente se não sabemos onde queremos chegar. Não importam as ruas que a gente aprenda a desviar, se não decidirmos ficar de vez onde nos sentimos bem. De nada vale aprender a nos localizarmos na vida, se ignoramos o lugar certo em que deveríamos estar. E o mais importante: a nossa localização pode até mudar, mas a nossa essência será sempre a mesma.