A época da infância que era boa. Eu ganhava mesada e minha preocupação era terminar a lição correndo para poder ir brincar. O que eu gastava era em doces e figurinhas e não tinha a obrigação de dar presente para ninguém no Natal.

Ir para a escola era festa, voltar mais ainda. Sempre voltava em bando pela rua, um brincando com o outro – ou então brigando. Criança tem uma pureza invejável, pois até chegar ao destino quem tinha brigado já estava de bem.

O bom do almoço era esperar a sobremesa. Ainda é, mas apenas as crianças podem admitir isso. Sabem como é, somos exemplos agora. Eu podia dormir depois do almoço – ou então em qualquer hora. Também sempre contei com os braços fortes da mamãe para me carregar caso fosse preciso.

Eu nunca quis parar de brincar e nem pensei em me render ao sono que assistir desenhos animados a noite dava. Sonhava em crescer, me tornar adulta, e poder ver o quanto de desenho animado estivesse afim. Era complicado demais entender o motivo pelo qual os “grandes” não se divertiam tanto quanto eu.

Se eu precisasse de um carinho – ou até mesmo fazer manha, era só chorar. Se eu queria me livrar da tia chata era só sorrir. Mas acima de tudo, e tirando os empasses da escola, a minha única responsabilidade era justamente não ter responsabilidade.

Imagem do livro O Pequeno Príncipe

Imagem do livro O Pequeno Príncipe

Puxa, como era bom! Quando cresci um pouquinho me sentia a pessoa mais capaz e não via a hora de responder por mim mesma. Sempre tinha alguém para comentar: “Aproveita, que quando crescer você vai sentir falta de ser criança”. E eu sempre rebati: “Não vou não, é chato ser criança!”.

Como assim? Não, não é chato. E eu sei disso agora. Quero voltar correndo para os braços da minha infância e me lembrar do cheiro do bolo formigueiro. Quero continuar com os joelhos ralados e com os cabelos enfeitados com fitas. Não quero precisar pensar e nem tomar decisões.

Obviamente alguma criança deve estar passando por isso agora, já que é uma fase natural da infância e muito estudada pelos psicólogos. Então eu troco, sem problema nenhum. Combinado? Troco a vida adulta por uma mês como criança. Troco uma vida corrida, cobrada, pressionada e cheia de expectativas por uma vida virgem, intocada e acima de tudo plena.

Não me venha com discurso sobre nostalgia, ela existe e faz parte da vida. Mas é porque tem dias em que você só quer assistir desenho animado e comer bolacha recheada. Eu sei, os meus amigos de infância (feitos na infância) tem essa vontade também. Então podemos fazer um intercâmbio em grupo.

Não seria incrível voltar para a infância e de quebra ter os seus amigos da época junto? As férias seriam mais divertidas assim certo? Vamos esquecer as viagens ou a casa na praia.

Acredito fielmente que no final dessa troca maluca o mundo seria apenas das crianças, pois ninguém ia querer voltar a ser adulto. Então seria um mundo melhor, mais belo, leve, divertido e acima de tudo com cheiro de bolo formigueiro.