Pode acontecer, não é? Sabemos que nos perdermos de nós mesmos é inevitável. A gente tem essa mania de estar no meio do caminho achando que temos tudo sob controle e planejado. Achamos que só precisamos pagar a última prestação do carro e emagrecer os quilos extras que sempre estão lá. E no mais tá tudo bem. E no mais tá tudo indo. Mas quando olhamos melhor, percebemos que nos sentimos perdidos. Podemos estar em dia com a igreja, com o cartão e os boletos da Renner. Mas o dia de questionarmos o caminho sempre chega.

E não é um dia como o dia do juízo final. É bem menos dramático que isso. É só um dia em que estamos indo para o nosso horário de almoço no meio da semana e, ainda carregando o cansaço da semana anterior, percebemos que não fazemos ideia do que estamos fazendo e para onde estamos indo. Não porque estamos fazendo algo errado, muito pelo contrário, nos perdermos para que seja possível nos encontrarmos. Mas sim, porque estamos na inércia. Seguindo sem questionar e fazendo sem concordar.

E aí engolimos o almoço sem nem sentir o gosto e mal reparamos no tempero. Precisamos de foco novamente, mas tudo o que conseguimos pensar é que precisamos o tempo todo de alguma coisa. E isso cansa. Estamos cansados demais desde a semana passada para continuar em frente. Estamos cansados demais desde o ano passado para atingir alguns objetivos que não nos representam mais. Estamos cansados demais desde sempre assumindo sermos o que não somos.

Sobre nos perdermos de nós mesmos

Fonte: We Heart It

Precisamos que a realidade seja finalmente assumida: nós sabemos exatamente quem somos, onde estamos e onde vamos. Apenas não concordamos. Nós estamos incrivelmente bem resolvidos com nós mesmos – mas não com os outros. Sempre nos falta aquele toque de arrogância que nos defende do julgamento alheio. Não tem nada a ver com o nosso horário de almoço. Muito menos com o cansaço da semana passada por causa do feriado ou pelas férias que ainda não conseguimos tirar. Estamos assim, com o peso da inércia nos nossos ombros, por nossa causa mesmo. Por toda cobrança que nos permitimos. E isso não é nos perdermos de nós mesmos. Estarmos conscientes é saber exatamente onde estamos.

Sabemos que estamos fazendo o possível, mas estamos mais preocupados em nos exigirmos menos. Estamos conscientes que temos andado mais para o lado do que para frente – mas não para trás. E tá tudo bem, não é? Estamos quase aliviados, porque muito do que deveríamos ter sido não combinou com a gente e deixamos pra lá. Estamos quase orgulhosos pela nossa forma de levar a vida, mesmo que isso signifique viver de uma forma menos severa. Estamos felizes porque muito do que deveria ter acontecido nas nossas vidas não fluiu. E gostamos muito do resultado do que não aconteceu. A nossa essência é modelada pelo sim ou pelo não, pela ida ou pela volta e, principalmente, pelo que acontece ou deixa de acontecer.

Somos gratos por volta e meia nos sentirmos perdidos. Dessa forma retomamos o foco e voltarmos para nós mesmos. Sabemos quem somos, onde estamos e onde queremos chegar. Ficamos realmente satisfeitos com a nossa forma de lidar com a pressão do dia a dia. Todos os dias quando olhamos no espelho, recebemos um abraço apertado, sorrimos ouvindo uma musica ou choramos com algum comercial da Panvel, estamos felizes com nós mesmos. Não é perdição ou abismo, é consciência. E é uma consciência leve que carregamos com a gente de bom grado. E tudo o que o peso da inércia faz é lembrar que não tem problema, que a gente resolve quando der, que ainda tem tempo, que tá tudo bem. E tudo o que a gente lembra no almoço é  que temos que dar uma passadinha na Renner e na Panvel.