Talvez não exista mais espaço pra nós dois. Não depois de todas as mentiras desnecessárias, manobras de caráter e ilusões inúteis. Fala sério, você ainda consegue me ver? Eu estava lá por você, sabia? Mesmo depois de ter magoado a minha alma pra acreditar no impossível e teimado em desviar do que estava lá pra ser visto, eu continuei lá por você.

Aonde você foi? Não está claro o que você quer de mim, poxa. Você quer que eu me reinvente só pra seguir ao teu lado? Que eu aceite menos só porque vem de você? Que eu finja não ver a mentira nos corroer? Ou que eu abra mão da minha verdade pra viver a sua? Foi mal, mas não dá pra forçar o amor a fazer bem. E se não faz, provável que nem seja amor.

Talvez não exista mais espaço pra nós dois. Até porque eu fiquei com preguiça dessa situação óbvia demais. É que nós sempre fugimos do óbvio e debochamos dos caminhos já trilhados. Como que agora você me quer do teu lado engolindo o previsível goela abaixo? Não faz sentido. Achei que você era quem ia escapar do tédio comigo, mas me enganei.

Talvez não exista mais espaço pra nós dois

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É que eu me nego a aceitar o que não me agrega mais só pra evitar conflito e fingir que ainda somos nós dois. Não somos, poxa. Ficamos nessa de nos moldar com as nossas escolhas que nem vimos quando seguimos por caminhos diferentes e nos tornamos pessoas diferentes. Nos ocupamos tanto tentando vencer o tédio que abrimos espaço pro óbvio chegar.

Talvez não exista mais espaço pra nós dois. Não depois de tanto drama, de bagunçar a morada que construímos juntos e trazer sujeira pro coração. Chega uma hora que não vai mais. Você melhor do que ninguém devia saber que eu topo tudo, menos vender a minha alma. E se não tem mais espaço pra gente é porque eu preciso de espaço pra mim.

E tudo bem, sabe? Eu posso interpretar essa falta de espaço como um final amargo repleto de mentiras inexplicáveis ou como uma oportunidade de respeitar a minha essência e não me fazer menor pra caber onde não devo. É que a vida é isso mesmo, encontros e desencontros de pessoas que num segundo se encaixam e depois já não se pertencem mais.