Esses dias eu fui conhecer a praia com a areia mais branca do mundo. E quando pensei em escrever nessa tal areia branquíssima uma única palavra me veio a mente: liberdade. Porque pra mim não existe nada mais bonito do que ser livre. O não compromisso, o mergulho em dia quente, o impulso, o querer, o atrevimento, a independência. E toda essa ousadia que eu nunca tive, eu senti enquanto mergulhava num mar cristalino – daqueles que nem cena de filme é capaz de reproduzir. O resultado? Uma convicção que eu nunca tive.

Foi a liberdade em que eu conquistei aqui que chutou a minha insegurança para bem longe. Eu vim com a mala cheia de ansiedade, dúvidas e medos. Ok, concordo que também tinha muito da minha boa vontade em fazer dar certo. Às vezes a minha determinação é meio chata, tem dessas de não desistir. Acontece que até um pouco antes eu era toda hesitação. E foi com essa sensação que eu montei a minha mala, toda misturada entre sapatos e sentimentos bagunçados. Muito eu deixei pra lá – até porque eu só tinha 23 quilos de bagagem. E como se fosse simples e fácil, parti.

Eu achei que ia conseguir deixar muita coisa para trás. Achei que era um novo começo e eu não seria assombrada por nenhuma metade em que já pertenci. Achei que eu ia desembarcar aqui, desfazer a minha mala, não encontrar metade das coisas e sentimentos necessários e achar que tudo bem. Achei que a sensação de desapego iria me acompanhar. E foi justamente  o contrário. Eu desembarquei, desfiz as minhas malas que guardam sapatos que até hoje não tive a oportunidade de usar, e volta e sempre rola um tremendo frio na barriga combinado com inquietação.

Pagando de blogueira em Jervis Bay – Austrália

E isso não é ruim. É só porque me permiti viver da maneira mais intensa e menos segura que um dia eu poderia ter imaginado. Eu precisei desapegar de tudo, até que fosse possível uma vida em duas malas. Aprendi tanto dessa maneira. E exatamente assim, levinha, segui em frente sem quase nunca olhar para trás. Não digo que o que ficou não tem importância, mas veja bem o quão bem eu vivo sem, não é?

Ainda importa da mesma forma que ainda dói. Eu só não quero mais. Escolhi um novo começo mesmo sabendo que eu ainda seria a mesma – com as mesmas histórias, cicatrizes e singularidades. Sigo desapegando e não guardo arrependimentos – exceto que eu deveria ter trazido mais paçocas e menos sapatos. Se tem algo que eu aprendi foi que todas as minhas escolhas me fazem ser exatamente quem eu sou, sem importar onde eu esteja. 

E foi enquanto eu estava na praia com a areia mais branca do mundo tendo um dos melhores dias desde que desembarquei, que eu caí e ralei o joelho jogando Frisbee. Acontece. Eu estava me divertindo, rindo e exalando felicidade. Provavelmente não vai ficar nenhuma marca, apenas daqueles roxos que dá vergonha de usar vestido. Mas sendo bem sincera, pela primeira vez na minha vida, eu não me importaria se ficasse alguma cicatriz.