A gente tem essa mania terrível de falar que ama todo mundo. Ou tudo. Mas a verdade é que o “amor” virou muito mais forma de expressão do que realmente um sentimento. Você “ama” chá gelado, e gosta de sair com o gatinho. Você “ama” aquele sapato, e curte uma balada com as amigas. Você “ama” o novo seriado que estreou, a nova fórmula do shampoo e a sua calça jeans antiga. Oi? Invertemos os papéis, não?

Acontece que amor virou força de expressão. Passou da época em que amar era um sentimento a la Machado de Assis ou Camões. Amar é estado de graça, euforia por algo. Mas sentimento profundo por alguém? Faz tempo que não é mais.

Ah vá lá, amar é cansativo, dá trabalho, ocupa tempo, disposição psicológica e física. Sim, eu sei. Na realidade, sempre vamos preferir o que é rápido e prático. Oras, estamos na era da praticidade – o que eu esperava?! Amar é… responder rápido!

Mas afinal, estamos mesmo com pressa ou estamos assustados? É muito mais prático ficarmos na defensiva. Conseguirmos ocupar, ou pelo menos controlar, a cabeça com o que queremos, e acima de tudo: não nos assustarmos. O que assusta não é o amor, é a falta dele. E é por isso que usá-lo como uma expressão diária, mesmo que de forma quase banal, é uma forma aconchegante de fazer estar presente o que não está.

É claro que estou exagerando para que vocês possam entender o meu ponto de vista. Mas se você “ama” o seu vestido novo, como você vai expressar o quanto “ama” a sua metade da laranja? Qual seria a outra palavra existente? Diversas vezes o nosso vocabulário fica vago diante de tantos significados do qual precisamos – talvez seja por isso que a linguagem corporal exista. Mas a questão que fica martelando na minha cabeça é: nós estamos supervalorizando o supérfluo ou desvalorizando o necessário?

Amamos tudo e todos porque assim nada nos falta. E é exatamente isso que não percebemos: amar tudo e todos não preenche nenhum vazio e não nos proporciona nenhuma satisfação. Transformar o ato de amar em uma expressão banal e falar de forma automática, não diminui a importância ou a falta dela em nossas vidas. Revigore-se, saiba se expressar melhor e guarde o amor para o amor. Cedo ou tarde ele chega.