Existe amor. Existe sim, mas amar dá trabalho pra caramba. E é mais fácil falar que não existe do que administrar mais um sentimento volúvel. Sério: de sentimentos já não bastam os nossos, não é? Nós mal sabemos o que sentimos, mal nos entendemos, mal sabemos de nós mesmos.. e de repente temos que entender outra pessoa?! E tem todo esse lance bizarro da pessoa se tornar totalmente boa quando ama. Aquele velho clichê: “você me fez uma pessoa melhor” não é assim tão infundado. Você quer o melhor pra quem você gosta – simples assim.

É que normalmente o desconhecido assusta. Todos nós temos o nosso lado inesperado e ao mesmo tempo angustiado – e não falo só de TPM. O ser humano é contraditório, praticamente bipolar. As vezes estamos num dia de alegria, mas as vezes queremos que todos vão pra puta que os pariu. Temos momentos de realizações e momentos que declaramos nossa demissão mentalmente. Choramos de raiva, sorrimos falsamente – quem nunca? Nos irritamos, criticamos, incomodamos, surtamos e todas as outras ações possíveis…

Temos tanto receio do que pode acontecer que pisamos no freio bruscamente. E assim vivemos: no ponto morto.

E quando é amor? É amor quando sua loja predileta está com tudo pela metade do preço. É amor quando sua menstruação desceu e o susto passou. É amor quando a internet está rápida. É amor quando a bateria não acaba. É amor quando o cartão de crédito ainda tem limite. É amor quando sua tia não pergunta sobre o namorado que não existe. É amor quando você não pega trânsito. É amor quando nenhum bêbado te enche. É amor quando você não fica com ressaca. É amor quando você goza.

E assim vai, no ponto morto. Porque assim sabemos viver. Assim é seguro. Ninguém quer acelerar. Ninguém quer se arriscar. A zona de conforto é sempre melhor. Porque amar dá trabalho pra caramba.

Esse tal de amor vai muito além. Para amar é preciso ser paciente, abrir exceção e se preocupar primeiro com o outro e depois com você. Fazer social com a família, aguentar TPM, aguentar quando o time perde, ceder mais do que a metade da cama. E é claro, pura entrega. Você não deixa de ser quem é pra virar um casal – abomino quem faz isso. Você não se isenta da sua personalidade nem nada disso, apenas troca experiência com outra pessoa. Simplesmente uma parceria.

Existe amor. Existe sim, mas amar dá trabalho pra caramba. Então não me vem com um papinho fraco de que um dos dois ama mais. Apenas existem pessoas que se entregam mais a essa parceria e outras menos. Mas o amor sempre esteve ali, pra todos aqueles que souberam engatar a marcha.