Não é porque sou mulher, mas sempre tive um pressentimento forte pra coisas terríveis. E quando você esbarrou na minha vida o meu feeling de “perigo” não foi só acionado, mas gritou a plenos pulmões: “foge, corre e se esconde”. E foi o que eu fiz por puro reflexo.
Sai discretamente do teu quarto decorado pela tua mãe e fui correndo pra casa. Era agoniante continuar sentindo teu toque mesmo com você bem longe de mim. E enquanto pensava que estava segura embaixo das minhas cobertas sem você, eu estava sufocada pelo medo. E se você fosse aquele cara pra me encher de caos e dúvidas?
Então sim, eu me escondi melhor do que fazia quando era criança e brincava de esconde-esconde. E percebi que estava sozinha nesse esconderijo. Não tinha você pra me tocar despretensiosamente. Não tinha você pra me segurar pra não cair na escada. Não tinha você pra se enroscar na roupa de cama junto comigo. Eu estava apavorada com a ideia de ter que te incluir na minha vida e me explicar e me abrir e me desfazer da solidão que era só minha.
Eu continuei escondida porque eu sabia o que me esperava. Você tinha aquele sorriso de descobridor do mundo estampado no rosto vermelho pós-coito. E eu sabia que você queria que eu descobrisse o mundo com você – além do vinho barato, janta congelada e uma cama resistente. Eu sabia que você era do tipo que se entrega e vai na linha de frente. Mas e quanto a mim que sou daquelas que saem correndo pra se esconder na trincheira mesmo depois da guerra acabar?
E se eu me escondi foi porque o que senti por você no instante em que você colocou seus olhos nos meus me assustou muito. Assustou mais do que bicho-papão ou o homem do saco. E então aconteceu o que acontecia quando criança, uma hora você tem que se arriscar e sair do esconderijo se quiser vencer.
Eu sai e me entreguei. Deixei você me ver e perdi. Perdi o esconde-esconde e o pega-pega. Perdi a paz e a minha solidão. Percebi que a dois seria muito melhor a brincadeira. E coloquei amor nas tuas certezas.