Mulher está insatisfeita sempre. Às vezes é o cabelo, depois o nariz e depois as coxas. Sempre tem algum detalhe, o todo ou uma parte que está incomodando. Na maioria das vezes o peso que se sente não é necessariamente o quilinho a mais ou algo que comeu e não deveria.

É que as mulheres tem o dom natural de carregar consigo muitas certezas, incertezas, aflições e alívios. Não carregam apenas o físico e o concreto, mas também o que for abstrato e tiver relação com ela ou com um dos seus.

Elas tem o hábito de se desfazer do que não é útil, o fútil não tem serventia. De repente chega a vez de deixar pra lá um peso, tipo tonelada mesmo. Ninguém sabia que tudo isso estava sendo carregado, só foi percebido quando a sensação da leveza tomou conta. Que leveza é essa?

Cadê que eu não acho?

Não é o final de uma TPM, ou uma roupa nova, não é uma promoção no trabalho ou algum acerto de contas. É essa mania terrível de levar tudo nas costas e seguir a diante. Uma vez William Shakespeare falou que é possível ir muito mais além depois que se pensa que não se pode mais – ou algo assim, não me recordo ao pé da letra. Mas é exatamente este muito além do poeta que incomoda, junto com o cabelo, o nariz e as coxas.

As mulheres não sabem o que é e nem onde fica este muito mais além, mais além, além… Não importa onde procurem, parece que nunca encontrarão. Não conseguem dicas nem de quente e frio. Não é na cama, mesa, trabalho ou na balada. Não é no sexo selvagem, na dieta brusca, nas horas extras e tampouco no almoço de família.

É que quando algum lado da vida está dando certo o outro lado desanda. E é um reflexo natural buscar o equilíbrio. Seria este equilíbrio o “muito mais além”? É a busca do que ainda não foi alcançado ou alguma neurose feminina?

Mulher está insatisfeita sempre. Às vezes é o cabelo, depois o nariz e depois as coxas. Mas é exatamente esta insatisfação o combustível necessário, a determinação, a garra e a vontade de alcançar o que ainda nem foi descoberto, descrito, detalhado ou resumido. Esse tal de muito mais além é tudo e nada ao mesmo tempo, mas acima de tudo é o fôlego supremo que mantém as mulheres assim, tão mulheres.