Sinto que é mais complicado do que parece. Tantos traumas em uma só vida. Busco tantas respostas e, a maioria das vezes, eu nem sei quais são as perguntas. Tenho em mim a inquietação da dúvida. Não sei ao certo pra onde ir, mas me dizem que devo continuar. Irônico, não é? Não faço ideia do meu próximo degrau, muito menos se vai ser pra cima ou pra baixo. E isso tudo só me mostra que eu não sei o que quero ser quando crescer.
Será que eu já cresci? Ou eu perdi o timing? Quando foi que eu pisquei os olhos e não estava mais escrevendo na escola sobre como foram as minhas férias? Minha única certeza é que vou precisar de café. Preciso de combustível pra enfrentar tantos dilemas, caminhos e escolhas possíveis. Não é à toa que dizem que café é bebida pra gente grande. Carrego comigo além da dúvida sobre o que serei, um incômodo no coração por reconhecer um futuro incerto. É difícil perceber e assumir que, mesmo depois de tantos anos, eu ainda não faço ideia do que eu quero ser.
Será que eu já sou e não percebi? Acho que é meu silêncio que mais fala por mim. Quem tem dúvidas, cala e consente, sim. E volta e sempre se deixa levar. Então estou aqui, mais exposta do que nunca, me sentindo pouco pertencente à vida que levo. Tenho a impressão que estou muito mais perdida do que todos à minha volta. A bagagem pesa, mas eu não estou nem na metade do caminho. Como faz?
Talvez eu possa deixar de canto tudo o que eu já fiz. Ficam os meus certificados, desenhos da pré-escola em que me desenhei como jornalista e textos nunca publicados. Deixo pra lá os diário e questionários da adolescência, a coleção de papéis de carta e as camisetas assinadas pelos colegas no final do ano letivo. Abro mão de tudo por uma resposta: será que eu vou conseguir crescer para poder ser? Sinto que não há escapatória, procuro por sabedoria. Talvez eu leve comigo essa dúvida e no decorrer da vida faça dela combustível para continuar.
Mas que saber? Sigo meu caminho numa boa. Livro-me de culpas e remorsos o tempo todo. Deixo no passado o que passou, ou tento. Tudo bem não saber o que eu quero ser quando crescer. – até porque a gente nunca para de crescer, não é mesmo? Sinto que essa dúvida vai residir comigo pra sempre e fazer morada no coração. E sinto que não saber o que eu quero significa, acima de tudo, que eu ainda tenho inúmeras oportunidades para descobrir.
Afinal, o mundo não para de girar porque estou cansada, confusa e sem saber pra onde ir. Sinto que cada giro que o mundo dá, mais forte as minhas pernas ficam para enfrentar os degraus – ladeira acima ou abaixo. Não importa, não mais. Então eu realmente espero que o mundo gire bastante. E me deixe ser do jeito que eu consigo ser por enquanto. Assim eu sigo sem saber, mas curiosa o suficiente para não desistir de querer.