Eu queria escrever sobre o nosso esbarrão pra deixar registrado que foi importante. Mas acredito que não importa o quanto eu me dedique pra poesia sobre nós dois, eu vou acabar sendo clichê demais. Dizer que você foi uma lição de amor próprio que eu precisava – como já disse aqui, já não faz mais sentido depois de perceber que você nunca realmente me entendeu.
Eu achei que tinha encontrado morada no teu esbarrão. E assim me fiz vulnerável, talvez pela primeira vez, e achei que estava tudo bem deixar um alguém me ver pelo que eu realmente era. Mas acabei confundindo colo com ego e me vi nessa cilada com o borrão que a nossa poesia virou. Então deixei ficar subentendido e todo o resto culpei o universo pela ironia.
Eu queria escrever sobre o nosso esbarrão pra falar que foi leve dividir um pouco da minha verdade contigo e rir sobre o teu jeito de ver o mundo. Queria dizer que você me fez repensar algumas vibes que eu já tinha como certas e me deixei levar pela ideia que eu fazia o mesmo por você. E agora sobrou esse desperdício no ar porque eu nunca cheguei nem perto da tua verdade.
Eu achei que tinha encontrado uma rota de fuga no teu esbarrão. E assim me permiti descansar antes de riscar o próximo item da lista de realizações obrigatórias antes dos 30 anos que eu achei que queria. Você quase conseguiu disfarçar o caos me alcançando – e por isso eu sou grata por ter cruzado o teu caminho. Você me fez retomar o fôlego enquanto me tirava o ar.
Eu queria escrever sobre o nosso esbarrão pra te fazer entender o que você nem quer saber. Porque vendo agora, de longe, acho que não foi a minha melhor versão que esbarrou contigo. E a versão desse momento, que te escreve, melhorada e mais consciente, queria poder fazer valer os vacilos até você desistir do meu drama. Eu queria poder fazer você entender o que não tem explicação.
Eu achei que tinha encontrado verdade no teu esbarrão. E assim fechei os olhos e não pensei que a poesia escrita não volta e a impressão que criei também não. Confundi entrega verdadeira por fraqueza no ego e aumentei o que nunca existiu. Magoei a minha alma com um desencontro de realidades. Que bom que você cruzou o meu caminho, sério. Melhor ainda que foi só um esbarrão.