Eu sempre brinquei de mentir idade. Não que fosse preciso… Eu sempre menti a minha idade porque eu tenho um medo terrível de envelhecer. Brinquei tanto de parecer mais nova, que agora volta e meia tenho que fazer as contas para saber quantos anos eu tenho. E é por isso que todo começo de novembro é a mesma nostalgia e aflição. O mês do meu aniversário me lembra que o tempo está passando – e não há nada que se possa fazer.
Acontece que eu tenho um medo danado desse tic-tac na minha cabeça. Eu sei que tudo é fase. Mas quando os meus 25 anos bateram na porta eu me apavorei. Tudo acontece como tem que acontecer, mas eu sempre vou ter a impressão de que o tempo está passando muito rápido. E se volta e sempre eu brinquei de tirar dois anos da minha idade, foi puro medo de reconhecer a passagem do tempo. Talvez mais medo ainda de todo aquele tempo no qual foi tirado de mim, somado ao tempo em que eu já perdi e não tem como recuperar.
E é natural a gente repensar o que passou, sentiu e viveu. É natural a gente prometer um monte de coisas igual fazemos no ano novo – não deixa de ser o começo de mais um ano, não é? E é mais natural ainda que sejamos todos expectativas. Acredito que é exatamente o que a gente espera que nos guia para onde queremos ir. Mas como eu posso saber o que quero com apenas 25 anos?
Já acreditamos em todos e juramos ser amigos para sempre de um bocado de gente, la pelos 15. Já mergulhamos de cabeça sem pensar nas consequências quando a gente estava na fase dos 18. Acredito que a fase dos vinte e poucos é mais tranquila, mais serena e madura. É a ordem natural das coisas, não? Já passou a fase de se afirmar por aí, de agradar todo mundo e esquecer das nossas próprias vontades. Eu sei que agora a gente devia estar mais tranquilo em relação a vida, mas tenho que confessar que esse lance de “viver” continua incrivelmente assustador. E sinto que continuará sendo, não importa a idade.
A nossa cobrança não cessa, aumenta. O nosso ego continua precisando de atenção. As nossas ações tem consequências mais sérias. As nossas atitudes nos dizem quem somos. Continuamos sem tempo e procurando sentido para tudo. E acima de tudo, ainda só depende da gente.
Meu medo de envelhecer não são as rugas, a memória, os joelhos que não dão mais conta ou os grisalhos. Eu tenho pavor de chegar bem lá na frente e me arrepender de não ter vivido, não ter dito sim, não ter falado o que eu penso, não ter escutado ou ido mais além. E esse medo não é um medo daqueles que nos impulsiona para a frente, mas sim daqueles que nos petrificam como os olhos da Medusa.
Eu não tenho forças suficientes para carregar arrependimentos comigo. Eu não sou forte o suficiente para pesar em meus ombros todas as vezes em que disse não querendo dizer sim. E acima de tudo, eu não consigo lidar com o fato de ter que sustentar o peso das minhas escolhas para sempre. E é por isso que eu sou do jeito que sou. Não sou uma pessoa fácil de lidar, não sou de me deixar levar e muito menos alguém leviana. Já fui tudo isso por muito tempo, e não tenho mais tempo para desperdiçar.
E eu digo isso porque já deu tempo de me conhecer, saber como eu sou e o quão longe eu posso chegar. Eu sei que só depende de mim, mas volta e meia eu vacilo e não sei se eu tenho o suficiente. Eu fui, literalmente, uma metamorfose ambulante. Não na forma bonita e poética do Raul Seixas. Eu fui assim porque eu me adaptei aos acontecimentos e segui o fluxo das pessoas à minha volta. Se eu tolerei mais do que eu poderia? Com certeza. Não existe poesia para isso, mas sei que todas as escolhas feitas me trouxeram até onde estou.
É porque para mim envelhecer é isso: tornar-se responsável pelas nossas atitudes e aceitarmos as consequências. E sinceramente, não sei em qual idade eu ficarei madura e forte o suficiente para isso. Espero que não aos 25, porque sou daquelas que adora se surpreender.