Se por mim perguntarem, digam que eu fui embora. Dei tchau para o que os outros pensam. Um beijo na bochecha de cada opinião desmedida sobre a minha vida. E um aceno de longe para a hipocrisia atual. Não estou louca ainda, apenas procurando minha sanidade por aí. Ando por esquinas estranhas, pouco iluminadas, mas que no fim trazem mais luz à minha alma do que ficar vagando em um lugar no qual eu não pertenço mais.
Descobri o significado sobre ser eu mesma da forma mais dolorida possível. E mesmo assim eu ainda faria tudo de novo. Questionei o inquestionável, mesmo depois de seguir a multidão e me privar da dúvida. Respirei o mesmo ar mais do que uma vez. E aquele ar respirado me mostrou que se eu faço sempre a mesma coisa, meus resultados serão os mesmos. E é por isso que preciso, cada vez, mais agir pelo que eu penso, acredito e acho certo.
Eu realmente me sinto à vontade em viver em um lugar onde as pessoas podem ser o que elas querem ser. E não falo isso só porque estamos na época do Mardi Gras em Sydney – evento focado no público gay. Falo isso porque já passei da época de caras errados, decepções fracas, mergulhos desmedidos e riscos vazios. Falo isso porque aprendi a valorizar melhor o meu tempo. Falo isso porque percebi que o que ninguém sabe, ninguém julga também. Falo isso porque demorei muito tempo até me sentir realmente em segurança. No fim das contas, lar é onde o seu coração está.
Eu sei que muitos pensam em mim como uma pessoa revolucionária e inquieta. Vá lá que até já ouvi que sou hipócrita e rebelde sem causa. Gosto de falar o que ninguém fala. Gosto de ser a pedrinha no sapato e escrever o que incomoda. Mas sabe, já fiz as minhas escolhas e estou bem com a minha própria consciência. Não me calo mais diante do que eu não acho certo. Não é assim que todos devem agir?
O que eu sinto é que todos nós estamos condicionados a seguir hábitos sem questionar. E isso é triste, porque podemos muito mais. Tanta coisa já não representa mais a nossa essência. Então por que insistimos no que não dá mais resultado? Compartilhamos tanto uma vontade de sermos livres, mas ao mesmo tempo nos importamos demais com o que os outros pensam para que esse desejo seja verdade. Onde está a verdadeira beleza de ser um ser humano?
Mesmo fazendo o tipo ingênua, não acho que um dia conseguirei sonhar com um mundo livre de amarras sociais. Fico feliz de ter achado meu lugar. De qualquer maneira, depende de mim começar a mudar a forma de agir. A responsabilidade do “daqui em diante”, como eu vou me comportar e como eu vou educar meus filhos é minha. Já pensou que louco seria o mundo se todos pensassem assim?
Gosto de pensar que dei tchau para muito mais do que meus amigos e familiares. Gosto de pensar que me desvencilhei de sentimentos pesados e julgamentos inúteis. Gosto de ter a sensação que estou fazendo a minha parte – pensando no bem comum. Acho de uma beleza sem igual a liberdade de você ser o que você tem vontade de ser. Mas é claro que se eu não tivesse dito tchau, nada disso seria possível. E você? Está preparado para se despedir?