Você foi uma fantasia divertida. Nada além de um escape da realidade, uma massagem no ego, uma dose de ilusão, quando tudo o que restava era desviar do que eu tinha. E agora que as crises existenciais passaram, que o trajeto ficou óbvio de novo e tudo voltou pro devido lugar, eu fico aliviada em conjugar o teu verbo no passado. Não que eu tenha te usado nem nada, mas fiz de você o que precisei.

Não tem sentido ou explicação essa implicância contigo, juro. Não existe contexto ou justificativa suficiente pra remediar o que não tem volta. Às vezes eu acho que fantasiei você só pra me permitir ser a mulher que eu realmente sou, e esbarrar em você olhando pra mim. Outras vezes acho que foi só birra de criança mimada pra chamar atenção. Mas me diz você, o que foi?

Você foi uma fantasia vazia que me fez conhecer uma parte minha não tão bonita e publicável assim. Um lado meu que prefiro deixar escondido, e de preferência esquecido. Um alguém que prefere abrir mão da consciência e realidade, do que encarar a responsabilidade das próprias escolhas. Não sempre, eu sei. Mas ainda assim, eu fui uma cilada – admito.

Não tem espaço pra desculpas e discursos vazios de arrependimento. Não seria verdade. Até porque eu não posso me remoer por todas as ilusões que criei de uma atenção inexistente por um alguém que nunca esteve lá. Na medida do possível eu fui sincera. Eu criei cada pedaço de nós dois porque a bagunça da minha mente me disse que era o que eu precisava. E eu acreditei.

Você foi uma fantasia que me ocupou enquanto eu não estava pronta pra encarar a realidade que me cercava, a verdade que as minhas escolhas cobravam e o peso das minhas respostas. Você me divertiu enquanto eu fingia que o mundo não desabava à minha volta. Você foi distração, fuga e morada – tudo ao mesmo tempo, enquanto eu nem sabia mais de mim.

Não tem mágoa não, juro. Sigo tranquila dando risada das ilusões que criei enquanto te fazia sorriso. Também sigo tentando não fugir de novo do que é verdade. Só porque você foi uma fantasia criada e modelada por uma carência inexplicável, não significa que não tenha sido divertido e que não tenha me feito bem – mesmo que eu siga melhor sem você.